quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mãe.

Um som no vazio sombrio que me arrepia e me puxa a memória. Ouço gritos, vejo destroços como se fossem reais, chovem lágrimas e trovejam gritos. Terá o Apocalipse invadido o meu espaço, o que é meu, num momento tão sinistro? Vejo uma luz branda no fundo daquele vazio negro, uma pequena luz que se aproxima e aquece (...) aumenta e aumenta. Ouço um barulho ensurcedor e aquela visão destruidora que continua a aumentar começa a desfocar...
a abrandar, a abrandar.
O lume está vivo e cega com as suas labaredas a negatividade daquele momento incompreendido. O lume toca-me nas mãos mas não me queima.
Abro os olhos que brilham incandescentes e ouço:
"-Acorda filha."
Corre uma lágrima da minha alma, abraço-a e digo:
"-Não te perdi mãe".

caminhada da vida, pedaços de mim.



tenho os pés cansados e a minha caminhada ainda não chegou ao fim. pergunto-me se algum dia encontrarei o que procuro, e pergunto-me também, o que realmente continuo à procura. sou capaz de me lançar nas estradas, sem olhar a distâncias, sem pensar nos obstáculos, nos riscos. lanço-me mas sem traçar uma rota definitiva. tenho dias em que me perco e tenho de voltar atrás, faço travagens bruscas, ando à boleia, mas questiono-me frequentemente: como posso eu perder-me se nem sequer sei para onde ir ? esta incerteza torna os meus passos inseguros, o meu olhar vacila em todas as direcções, o meu coração não se decide e o vento engana-me de novo.
vejo em cada passo um fracasso; se tentar traçar um mapa, sei que o vento levará as linhas. se construir um castelo as ondas vão deitá-lo a baixo, mais cedo ou mais tarde. mas eu, eu nunca desaparecerei definitivamente. nem ventos, nem tempestades, nem ódios, nem o tempo me irão apagar e a razão é simples. nunca serei totalmente nada, pois deixo um pouco de mim em tudo o que toco e em todos os que conheço. por vezes não deixo quase nada, apenas uma leve brisa que apenas recorda a minha presença muito vagamente, e, noutras vezes deixo quase tudo, deixo parte do coração e da alma, deixo um abraço eterno, deixo um pouco de amor. enquanto esta memória durar, as imagens, os textos, as saudades, os abraços, os dias, as noites, as amizades, os amores, as aventuras e desaventuras, os pecados, as virtudes (e tudo mais que me diz respeito) nunca se irão por completo, enquanto eu continuar a deixar mais de mim nos outros, enquanto algém se lembrar e pensar em mim. eu permanecerei aqui.



rita oliveira.